terça-feira, 15 de julho de 2008

A alma dos animais (Voltaire)

"Os filósofos dizem-me: Não vos enganeis, o homem é inteiramente diferente dos outros animais, tem uma alma espiritual e imortal, pois(notai bem isto), se o pensamento é um composto de matéria, deve ser necessáriamente aquilo de que é composto, deve ser divisível, capaz de movimento, etc. Ora, o pensamento não pode dividir-se, portanto não é um composto de matéria, não possui partes, é simples, é imortal, é a obra e a imagem de um Deus. Escuto esses mestres e lhes respondo, sempre desconfiando de mim mesmo, mas nem por isso confiando neles. Se o homem tem uma alma, tal como assegurais, devo crer que este cão e esta toupeira têm uma semelhante. Todos me juram que não. Pergunto-lhes qual a diferença que existe entre este cão e eles. Uns respondem este cão é uma forma substancial; outros me dizem: Não acrediteis nisso, as formas substanciais são quimeras; este cão é uma maquina como uma manivela, e nada mais. Pergunto ainda aos inventores das formas substanciais o que entendem por essa expressão, e como só me respondem com galimatias, volto-me para os inventores das manivelas e lhes digo: se estes animais são puras maquinas, certamente sereis em comparação com eles, apenas como um relógio de repetição em comparação com a manivela que falais; ou, se tendes a honra de possuir uma alma espiritual, os animais terão uma também, pois são tudo o que vós sois. Possuem os mesmos órgãos com os quais tendes sensações, e se não lhes servirem para a mesma finalidade, dando-lhes tais órgãos Deus terá feito uma obra inútil. Mas de acordo com vossa própria opinião, Deus nada faz em vão. Escolhei portanto: ou atribuís uma alma espiritual a uma pulga, a um verme, a um bicho do queijo, ou sois autômato como eles.(...) Portanto, Esses órgãos dos sentidos são dados apenas para o sentimento, donde se conclui que os animais sentem como nós e, assim, só um excesso de vaidade rídicula pode levar os homens a se atríbuirem uma alma de uma espécie diferente daquela que anima os brutos."
Voltaire em Tratado de Metafísica

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